Prof. Gretz
Palestrante há 40 anos e ficando grande parte desse tempo longe de casa e da família, adotei para minha vida essa frase do escritor Og Mandino, que coloquei como título destas linhas: sempre procurei “voltar inteiro” para casa, e conviver com todos sem trazer o cansaço das viagens.
Agora, diante das circunstâncias e recomendações deste momento inusitado na vida de todos nós… estamos em casa. Com as palestras adiadas por causa do confinamento, enquanto a pandemia ocupa todos os noticiários e as redes sociais, aproveito o tempo para organizar melhor as estantes cheias de livros, muitos deles lidos durante as viagens para eventos em todas as regiões do Brasil.
O interessante é que cada livro que pegamos, ao ser reaberto, projeta uma história na tela de nossa mente.
Um livro didático, “Estudos de problemas brasileiros”, de Hilário Torloni (lembram-se da matéria chamada OSPB?), me levou ao tempo de professor do curso Fernão Dias, no Vale do Anhangabaú, no centro nervoso de São Paulo.
“O homem que calculava”, de Malba Taha (o escritor e matemático brasileiro Júlio Cesar de Mello e Sousa), me levou à infância com aquelas desafiadoras curiosidades que tornavam divertida uma matéria que muitos detestavam.
“O pequeno príncipe”, de Saint-Exupéry, me resgatou uma frase que usei numa carta para a minha namorada na década de 1960: “Tu te tornas responsável pelo que cativas”. Quem já não usou esta frase em alguma declaração de amor e estima?
E o livro “Perestroika”, de Mikhail Gorbachev: “Precisamos nos encontrar e discutir, precisamos colocar os problemas com espírito de colaboração e sem animosidade”. Uma frase do final do século passado que continua atualíssima.
Machado de Assis: “O melhor drama está no espectador e não no palco”. Essa frase, no livro “Papéis avulsos”, é uma dica valiosa para atores e… palestrantes.
José de Alencar: “Tudo passa sobre a terra” – estas palavras, no finalzinho do livro “Iracema”, têm um significado especial nos dias de hoje.
Eça de Queiroz: “É o coração que faz o caráter”.
Casimiro de Abreu: “Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!…”
Erico Veríssimo, no belo romance “Olhai os lírios do campo”: “A vida começa todos os dias”.
Padre Vieira: “A mais doce de todas as companheiras da alma é a esperança”. E mais uma: “Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência”.
A propósito, ao rever essas palavras de Vieira lembrei-me também de um artigo de nosso colega Reinaldo Polito, em que ele cita um sermão do escritor e orador português que é uma verdadeira aula sobre a arte de falar, comentando sobre o profeta João Batista (“a voz que brada no deserto”).
E lembro também nosso colega Mário Sergio Cortella, que diz: “Cada dia, uma linha”. É exatamente isso.
Sendo assim, tomo a liberdade de recomendar aos meus colegas palestrantes e a profissionais de todas as áreas que aproveitem esta “parada obrigatória” para terminar os livros iniciados mas não terminados, e também aqueles que esperam na estante a oportunidade de conversarem conosco.
A obra dos grandes escritores pode contribuir com muitas histórias e frases para enriquecer o conteúdo de nossas palestras e até mesmo as nossas interações no dia a dia. E não devemos nos limitar aos livros que tratam de nossa área de conhecimento. É importante navegar por outros oceanos do saber, porque isso alarga nossos horizontes, amplia a nossa visão de mundo.
Os livros são ótimas companhias, não só nesses tempos de resguardo, mas sim em todas as fases da nossa vida.