Um padre viajava pelo interior em companhia de um estudante, e os dois contrataram um matuto para seguir com eles por alguns lugarejos, carregando a bagagem.
Em visita a uma casa na roça, o padre e seus companheiros de viagem ganharam de presente um queijo de cabra. Mas o queijo era muito pequeno para ser dividido. Então o padre decidiu que, na manhã seguinte, o queijo seria daquele que tivesse o sonho mais bonito durante a noite. É claro que o padre, com sua prática de oratória, achou que ganharia com facilidade. E também o estudante confiava em ganhar, pois tinha talento para lidar com as palavras.
Os três foram dormir. Mas o matuto acordou à noite com a barriga roncando e sentindo uma vontade irresistível de comer o queijo.
De manhã, os três se reuniram antes do café para que cada um contasse o seu sonho. O padre contou um sonho maravilhoso: tinha visto uma escada de ouro que subia até o céu, e estava subindo os degraus, já vendo anjinhos nas nuvens, quando acordou. O estudante aproveitou a deixa e foi além: contou ter sonhado que se viu no céu, rodeado de anjos e extasiado por uma música divina, enquanto via, lá de cima, o padre subir.
O matuto resolveu seguir na mesma história e falou:
– Pois é, eu sonhei que estava olhando seu padre subir a escada e que o dotorzinho já estava lá em cima, rodeado de anjinhos. Aí comecei a gritar bem alto para vosmecês escutarem: “Seu padre, seu moço, o queijo! Vosmecês esqueceram o queijo!” Então, ouvi vosmecês respondendo: “Pode comer o queijo, matuto. Não vê que nós estamos no céu e não precisamos mais desse queijo?”
Com um sorriso maroto, o matuto concluiu:
– Foi um sonho tão vivo que parecia verdade mesmo, então me levantei sem fazer barulho pra não atrapalhar o sonho bonito de vosmecês, e comi o queijo…
P.S.: Sonhar é essencial. A pessoa que cultiva um sonho de vida tem mais condições de realizar suas aspirações. Mas, além das palavras, é necessário agir.