Comecei a escrever este artigo em pleno clima de Copa do Mundo, logo após o jogo Brasil x Costa Rica. Mas se você, leitor, estiver saturado de tanto ouvir falar em futebol, pode continuar lendo porque este artigo não é sobre futebol. É sobre sucesso, vitória, realização pessoal, sobre alguns ingredientes que levam a isso, e também sobre alguns fatores que prejudicam o bom desempenho no jogo da vida.
Não é um texto sobre futebol, repito, mas as Copas do Mundo são ótimos exemplos…
Copa de 1954. A equipe da Hungria, consagrada em toda a Europa como a “Equipe de Ouro”, era a grande sensação naquele ano. Estava invicta há 63 jogos. Existia somente há cinco anos, mas já tinha goleado a Inglaterra duas vezes e conquistara a medalha de ouro nas Olimpíadas de 52. Na Copa de 54, chegou arrasando: derrotou a Alemanha por 8 x 3 e a Coréia do Sul por 9 x 0. Na decisão final, novamente a seleção da Alemanha teria que enfrentar os imbatíveis húngaros. Aos oito minutos, a Hungria já estava ganhando de 2 x 0 e todos estavam certos de que estava começando mais uma goleada espetacular da Hungria, rumo ao título mundial, sob o comando do genial centroavante Puskas.
Mesmo sem Puskas a Hungria vencera com facilidade o Brasil, por 4 x 2, nas quartas de finais, mandando para casa mais cedo a seleção canarinho. E também derrotara por 4 x 2 o Uruguai, que jogou com toda sua garra. A mesma garra que fizera calar o Maracanã, em 1950.
Impossível não lembrar aquela final da Copa de 50. Os jornais já tinham preparado a manchete em letras garrafais: “Brasil Campeão do Mundo”. O país inteiro já comemorava o título há dois dias. No segundo tempo, com o Brasil ganhando de 1 x 0, os organizadores já se preparavam para a entrega da Taça Jules Rimet, e ninguém se preocupou com o gol uruguaio (1 x 1), pois o empate nos daria o título. De repente, o desastre. Um chute astucioso de Gigghia venceu o goleiro Barbosa e um silêncio pesado, devastador, tomou conta do maior estádio do mundo.
Quatro anos depois, os alemães perdiam de 2 x 0 e já se ouviam os gritos de “campeã” para a grande favorita, a seleção da Hungria, que continuava pressionando com sua máquina de fazer gols. A equipe alemã não esmoreceu um segundo sequer. Empatou o jogo, resistiu à pressão dos húngaros e, a dez minutos do final do jogo, conseguiu mais um gol.
“Pela primeira vez, que eu visse, os deuses do futebol decidiram castigar a soberba de uma nação”, disse o jornalista Armando Nogueira. “E daí a cena da multidão absolutamente aparvalhada, no estádio silencioso.”
Soberba é sentir-se superior aos outros. É arrogância, presunção, que infla o peito, bloqueia o coração, empina o nariz, sobe à cabeça e… põe tudo a perder. A pessoa fica achando que “tem a Força” e, quando menos espera, não tem nada. É um grande perigo!
Como evitar esse perigo?
Saber que o “já ganhou” não existe. Favoritismo e liderança não são incompatíveis com humildade.
Saber também que não existe derrota antecipada. Acreditar até o último minuto. Não desistir. Não esmorecer.
Viver plenamente cada minuto como algo a ser construído com entusiasmo.
No momento em que reviso este texto para publicá-lo no site, ainda estão vivas na memória de todos as cenas da conquista do pentacampeonato, que foi entusiasticamente festejado por todos os brasileiros.
Como todos sabem, nossa seleção havia embarcado desacreditada para a Coréia, onde começaria a disputa da Copa. Para a maioria das pessoas, não estávamos entre os favoritos. Mas o resultado foi bem outro. Logo nas primeiras fases foram desclassificados alguns dos francos favoritos ao título de campeão do mundo, como a França e a Argentina. Tudo indica que não souberam lidar com o favoritismo…
Enquanto isso, a equipe brasileira – do técnico ao jogador mais novo, do roupeiro ao jogador mais famoso – trabalhava com afinco, disciplina, determinação e entusiasmo.
Como afirmei no início, este texto não é exatamente sobre futebol. Toda a imprensa mundial reconhece hoje que a o campeonato mundial de 2002 foi conquistado pela melhor equipe. Por que o Brasil foi melhor? Porque teve com mais preparo? Ou mais entusiasmo? Foi campeão pela quinta vez porque soube aliar as duas coisas. Preparo e Entusiasmo. E a soma desses dois ingredientes resulta em Sucesso.
Em nossas atividades profissionais, a situação é idêntica. Praticamente todas as empresas que me convidam para palestras pedem-me para incluir esse tema: sucesso. E tenho falado nisso com cuidado, porque muitos acreditam que o entusiasmo e o pensamento positivo são capazes de compensar as deficiências do despreparo. É o caso, por exemplo, do aluno que diz: “Se Deus quiser, vou passar no vestibular.” Será que não é meio comodista essa forma de colocar nas mãos de Deus a responsabilidade por nossos atos? Seria mais coerente dizer: “Estudei bastante, estou bem preparado e, se Deus quiser, vou passar.”
No trabalho, no estudo, em todas as searas da nossa vida, entusiasmo é força vital para o sucesso. Mas sabemos que o verdadeiro entusiasmo requer: vigilância, estudo, preparação, persistência e dedicação. Entusiasmo ilusório pode levar ao fracasso. O sucesso não vem prontinho do céu: há um dever de casa para ser feito todos os dias.
Temos que conhecer nosso ofício com profundidade e, nestes tempos de rápidas transformações, não dá para ninguém ficar pensando que já sabe o suficiente. Cursos de aperfeiçoamento, congressos, palestras, viagens, leituras, pesquisas, seminários, estudos em grupo, tudo vale a pena para que as chances de vitória não sejam pequenas.
Outro detalhe importante: quase tudo o que fazemos na vida é fruto de trabalho em equipe. Time de futebol, músicos de uma orquestra, profissionais de uma empresa, membros de uma família, em todos esses grupos é fundamental que os esforços estejam direcionados para um objetivo comum: isto se chama sinergia. Todos os integrantes da equipe são importantes e todos precisam estar afinados, preparados em conjunto, suando a camisa, jogando com determinação. No final de cada lance vitorioso, sob os aplausos da torcida, poderão então correr juntos para o abraço e soltar aquele grito entusiasmado de GOOOOOOOL!