Passo metade do meu tempo viajando para fazer palestras em todas as regiões do Brasil, e aproveito o tempo de viagem para ler, escrever e refletir sobre as próximas palestras. Certa vez, a caminho de um evento no interior do Mato Grosso, fiquei observando uma debulhadeira em ação, num extenso milharal. No mesmo ritmo em que as espigas iam sendo debulhadas automaticamente, o milho era ensacado e carregado em grandes caminhões.
Então me lembrei da velha debulhadeira que, na minha infância, funcionava em nosso sítio no interior de São Paulo. Antes que ela entrasse em ação, trabalhávamos duro colhendo as espigas, que eram colocadas em dois balaios de bambu, pendurados de cada lado sobre um cavalo. Quando terminávamos a colheita, era marcado o dia de alugar a debulhadeira, instalada na carroceria de um velho caminhão. As espigas eram derramadas através de um grande funil e passavam por várias engrenagens. De um lado, saíam os grãos de milho, correndo por uma canaleta para serem colocadas em sacos de sessenta quilos, que eram costurados manualmente à medida que ficassem cheios. Pelo outro lado saíam o sabugo e a palha, que as crianças aproveitavam para dar mergulhos (a brincadeira era tão boa que compensava a coceira terrível que sentíamos depois em todo o corpo).
A fumaça da máquina cheirava a óleo queimado e barulho continuava zoando em minha cabeça durante a noite, como se o motor ainda estivesse ligado bem do lado da minha casa. Fiquei recordando esses detalhes enquanto via a máquina que hoje colhe na própria roça, sem ruído, debulhando tudo na hora e levando os sacos para os caminhões. Não há saudosismo que resista a uma comparação entre a quantidade de energia que se gastava (trabalhadores, animais de tração, tempo, esforço, combustível) e a que se gasta hoje, em relação ao resultado produzido.
Assim é em todos os tipos de trabalho. À medida que uma tecnologia é aperfeiçoada, ela se torna mais produtiva, segura e prática, produzindo mais com menor dispêndio de energia. Porém não é apenas isso que garante a qualidade dos serviços. Por mais avançada que seja, ela não existe sem o componente humano. Toda empresa tem componentes técnicos e humanos, que devem estar bem equilibrados para que o desempenho e a qualidade sejam satisfatórios.
Infelizmente, muitos empresários pensam em desenvolver primeiro o lado técnico, para que depois o pessoal se adapte. Por isso, há empresas que investem milhões em um novo equipamento e entregam-no aos cuidados de uma pessoa que não foi suficientemente treinada. Isso pode dar certo? Claro que não. Pode gerar, isso sim, prejuízos, acidentes e perda de qualidade.
É claro que vale a pena ter a melhor tecnologia, inclusive nos sistemas administrativos. Mas quem garante a qualidade? Quem faz a manutenção? Quem opera os equipamentos e zela pela boa gestão da empresa? Esses cuidados, conhecimentos e competências estão nos seres humanos.
É fantástica a evolução tecnológica nos dias de hoje, mas antes de tudo é o próprio ser humano que está evoluindo. Essa evolução ocorre em todos os níveis. Desde os técnicos mais preparados ao mais modesto funcionário, todos podem aprender coisas novas a cada dia. À medida que o ser humano aperfeiçoa seus métodos de trabalho, torna-se mais eficaz e competente, seguro e bem-humorado, produzindo mais com menos esforço e melhor qualidade.
Uma empresa que envia seus profissionais a convenções ou a programas de treinamento, por exemplo, terá um diferencial em relação às concorrentes: a qualidade de serviços. Quando o profissional tem a oportunidade de dar o melhor de si, ele trabalha com mais entusiasmo, compromete-se com os resultados e todos saem ganhando.