O trunfo de Scolari para o Mundial da Alemanha
NICOLAS ASFOURI / afp
Scolari aprendeu com o livro de Gretz a forma de motivar os jogadores
Jorge Pedroso Faria
Chama-se Gretz. E é o trunfo que Luiz Felipe Scolari tem escondido na manga para o Mundial da Alemanha. Ele é o autor do livro “Voando como a águia – a inteligência como factor de mudança”, a bíblia que o seleccionador português adoptou desde que a equipa entrou em estágio.
João Roberto Gretz e Felipão já se conhecem há uns bons anos. Cruzaram-se em congressos no Brasil, mas nunca tiveram oportunidade de travar grandes conversas. No final de Janeiro, o seleccionador português participou em Florianópolis num colóquio que o levou a ficar hospedado por alguns dias no mesmo condomínio onde mora Gretz. Dessa vez, voltaram a cruzar-se e tiveram mais algum tempo para conversar. O conferencista ofereceu ao treinador o livro “Voando como a águia – a inteligência como factor de mudança”. Felipão gostou tanto que, pouco depois, decidiu adoptá-lo como referência para o Alemanha 2006.
A nova bíblia de Scolari, que substitui o famoso “Arte da Guerra”, do lendário general chinês Sun Tzu, nasceu num voo de avião. Gretz pensava na palestra que tinha acabado de dar numa conferência quando foi interrompido pela voz do comandante do Boeing, que revelava aos passageiros estarem a sobrevoar o Rio São Francisco.
“Olhando bem de cima aquela bela paisagem da foz do Velho Chico – as cidades ribeirinhas, as estradas, as pontes, os barcos, tudo tão pequeno quando visto lá de cima – subitamente me senti como se fosse uma águia”, escreve no início do primeiro dos 19 capítulos que constituem a obra de 169 páginas. E uma águia porque, sublinha, “nós temos muitos dos seus atributos”.
Desde esse dia do final de Janeiro que Gretz e Scolari não voltaram a falar. “Já estivemos no mesmo evento, mas a horas diferentes”, conta o conferencista ao JN, elogiando “o estilo simples e ao mesmo tempo contundente” do treinador. “Scolari consegue criar um ambiente participativo e motivacional”, acrescenta, deixando escapar que a derrota com a Grécia, na final do Euro 2004, “pode provocar, agora, efeitos positivos”. E explica “Provou que em tudo na vida temos de lutar sempre até ao fim”.
Mas, afinal, o que tem de tão especial o livro que serve de inspiração a Scolari? “Ele ajuda a ilustrar o pensamento. Há uma hora, em que o treinador esquece a parte táctica do jogo e tem de motivar os jogadores, tem de apostar na parte emocional. O livro tem umas historinhas que ajudam a simplificar isso mesmo”, responde o autor de uma obra que já vendeu mais de 120 mil exemplares, número ainda mais surpreendente se tivermos em linha de conta que só é comercializado no site do autor (www.gretz.com.br).
Desde que soube que Scolari ia adoptar o livro para motivar os internacionais portugueses que Gretz passou a torcer pela equipa das quinas, confessando que gostaria de poder ajudar pessoalmente Felipão nessa tarefa motivacional dos craques, até porque não seria a primeira vez que trabalharia com equipas de futebol.
O conferencista confessa que “é nas coisas mais simples que se descobre a melhor forma de resolver os grandes problemas”, até porque, como não se cansa de afirmar, “a deficiência não deve originar a ineficiência”.
E, em jeito de aperitivo, revela uma das muitas histórias que o seleccionador português poderá contar aos jogadores para os levar conquistar novas vitórias. “Dois exércitos estavam a travar uma batalha. O soldado de um dos exércitos chega a correr à beira do capitão e diz ‘Vamos perder a batalha, pois para cada um de nós há cinco soldados deles’. O capitão ouviu e respondeu: ‘Nós não viemos aqui para os contar, viemos aqui para os vencer.”
João Roberto Gretz nasceu há 60 anos em Itapeva, no interior de São Paulo. Enquanto adolescente, trabalhou no campo e vendeu os mais diversos produtos em feiras da região. Depois, entrou na universidade e licenciou-se em administração de empresas e história. Especializou-se em administração de produção, marketing e relações humanas. Foi director de recursos humanos em grandes empresas brasileiras e professor em cursos de pós-graduação. Actualmente, dirige a empresa que criou, especializada em programas de produtividade e qualidade. Reside em Florianópolis, estado de Santa Catarina, mas raramente está em casa. Nos últimos 20 anos, fez mais de três mil colóquios. É um dos conferencistas brasileiros mais requisitados. Já deu palestras em comboios, piscinas, campos de futebol, camiões, barcos e, inclusivamente, em plena Amazónia. A objectividade e o bom humor com que se dirige às platéias são o principal cartão de visita. Ontem à noite, viajou para o Japão, onde vai participar numa convenção em Nagóia. Durante as viagens de avião até ao Oriente, aproveitará para rever o livro que agora terminou, “Superando Limites”.
Fonte: Jornal de Notícias