“Minha vida é andar por este País”, cantou o sanfoneiro Luiz Gonzaga num famoso baião, que sempre me traz à lembrança os caminhoneiros e outros profissionais de transportes nas estradas. Às vezes me sinto assim também, já que passo metade do meu tempo viajando, para fazer palestras em todas as regiões do Brasil. Como um caminhoneiro, mas carregando idéias e palavras para serem entregues a platéias das mais variadas empresas, de Norte a Sul.
Estava outro dia a caminho de uma palestra no interior do Mato Grosso, contemplando a paisagem rural entre Cuiabá e Sinop. Aproveito sempre o tempo de viagem para escrever meus livros, ler um pouco e refletir sobre as próximas palestras. Em certo trecho, minha atenção voltou-se para um extenso milharal com uma debulhadeira trabalhando. Ela passava pela plantação colhendo as espigas, que iam sendo debulhadas automaticamente. No mesmo ritmo, o milho era ensacado e carregado em grandes caminhões.
Olhando essa máquina em atividade na lavoura, lembrei-me da velha debulhadeira que, na minha infância, eu via funcionando em nosso sítio no interior de São Paulo. Antes que ela entrasse em ação, trabalhávamos duro, colhendo manualmente as espigas, que eram amontoadas para serem recolhidas pela pessoa que vinha com o “cargueiro”, dois grandes balaios feitos de bambu, pendurados de cada lado sobre um cavalo. O milho era estocado em um paiol e, lentamente, o cavalo ia carregando dois sacos de cada vez. Quando terminávamos a colheita, era marcado o dia de alugar a debulhadeira, tentando-se escolher um dia que não fosse chover. Instalada na carroceria de um caminhão velho, a debulhadeira parava perto do paiol, onde era montado um andaime para levarmos o milho em cestos. As espigas eram derramadas através de um grande funil e passavam por várias engrenagens. De um lado, saíam os grãos de milho, correndo por uma canaleta para que um trabalhador fosse colocando em sacos de sessenta quilos, que eram costurados à medida que ficassem cheios. Pelo outro lado da máquina saíam a palha e o sabugo. As crianças aproveitavam, pois aquele monte de palha mole era ótimo para dar mergulhos e a brincadeira era tão boa que compensava a coceira terrível que sentíamos depois em todo o corpo…
A máquina soltava fumaça e cheiro de óleo queimado, as calhas se soltavam, as correias rebentavam com freqüência, e o ruído era tão alto que continuava zoando em minha cabeça durante a noite, como se o motor ainda estivesse ligado bem do lado da minha casa.
Fiquei recordando esses detalhes enquanto via a máquina que atualmente colhe na própria roça, sem ruído, debulhando tudo na hora e levando os sacos para os caminhões.
Não há saudosismo que resista a uma comparação entre a quantidade de energia que se gastava (trabalhadores, animais de tração, tempo, esforço, combustível) e a que se gasta hoje, em relação ao resultado produzido.
Assim é com todos os equipamentos, desde as máquinas industriais até os caminhões que hoje rodam pelas estradas. À medida que uma máquina é aperfeiçoada, ela se torna mais produtiva, mais segura, mais prática e muito mais potente, produzindo mais com menor dispêndio de energia.
Mas não é apenas isso que garante a qualidade dos serviços. Por mais avançada que seja a tecnologia, ela não existe sem o componente humano. Toda empresa tem componentes técnicos e humanos, que devem estar bem equilibrados para que o desempenho e a qualidade sejam satisfatórios.
Infelizmente, muitos empresários pensam assim: “Vou desenvolver primeiro o lado técnico, e depois o pessoal da empresa vai se adaptando de acordo com o esforço e a competência de cada um.”
Por causa dessa maneira de pensar, há empresas que investem milhões em um novo equipamento e entregam-no aos cuidados de uma pessoa que não foi suficientemente treinada. Isso pode dar certo? Claro que não. Pode gerar, isso sim, prejuízos, acidentes e perda de qualidade.
É claro que vale a pena ter a melhor tecnologia, não só nos equipamentos como também nos sistemas administrativos. Mas quem garante a qualidade? Quem faz a manutenção? Quem opera os equipamentos e zela pela boa gestão da empresa? Esses cuidados, conhecimentos e competências estão nos seres humanos. Em cada componente da equipe, cada um com seu talento e sua responsabilidade.
É fantástica a evolução tecnológica nos dias de hoje, fazendo surgir, a cada dia, máquinas mais aperfeiçoadas, com inovações que há pouco tempo nem podíamos imaginar. Mas, quando isso acontece, não foi só a máquina que mudou. Antes de tudo, é o próprio ser humano que está evoluindo. Essa evolução ocorre em todos os níveis. Todas as pessoas – do mais sábio cientista ao mais modesto funcionário de uma empresa – podem aprender coisas novas a cada dia. À medida que o ser humano aperfeiçoa seus métodos de trabalho, torna-se mais eficaz e competente, seguro e bem-humorado, produzindo mais com menos esforço e melhor qualidade.
Sem sombra de dúvida, investir no ser humano é fundamental para a prosperidade da empresa. Imagine, por exemplo, a seguinte situação: dois caminhões novos, do mesmo modelo, são colocados na mão de dois motoristas, sendo que um deles é extremamente cuidadoso e outro, embora seja um profissional esforçado e um bom motorista, é um pouco descuidado com seu veículo. Isso fará diferença daqui a três anos? É claro que sim!
Vamos mais longe, imaginando que o profissional cuidadoso passou por um programa de treinamento quando recebeu o caminhão, para se reciclar em relação às novidades tecnológicas desse veículo. E o outro, simplesmente, ligou a chave e saiu pela estrada para aproveitar o tempo. Repetimos a pergunta: isso fará diferença? Fará uma diferença maior ainda, porque o treinamento não é tempo perdido e sim uma forma de fazer render muito melhor o tempo dali em diante. Invertendo o exemplo: e se o treinamento fosse aplicado ao motorista descuidado? Sendo assim, ele teria a oportunidade de corrigir essa falha e evoluir profissionalmente.
Isso vale para gerentes, motoristas, mecânicos, vendedores, vale para todas as funções. Uma empresa que envia seus profissionais a convenções ou a programas de treinamento terá um diferencial em relação às concorrentes. Esse diferencial é a qualidade de serviços. Quando o profissional tem a oportunidade de dar o melhor de si, ele trabalha com mais entusiasmo, compromete-se com os resultados, e todos saem ganhando.