Sempre me lembro dos tempos de criança, pois é nessa fase da vida que estamos mais abertos para aprender. Eu tinha seis a sete anos quando fui com meus pais e irmãos a uma festa num sítio das redondezas. O terreiro tinha sido coberto com galhos de árvore e estava todo iluminado por lampiões. O salão improvisado já estava ficando cheio quando, ao fundo, um sanfoneiro pegou sua sanfona de oito baixos e começou a tocar.
Tocou uma rancheira e nenhum casal se animou para dançar. Tocou uma marcha e ninguém se mexeu. Parecia que as pessoas estavam desanimadas com o som daquele instrumento, muito limitado em comparação com as sanfonas de 120 ou 180 baixos.
Na minha curiosidade de menino, me aproximei do sanfoneiro e vi suas mãos calejadas, de trabalhador rural. Vi também o seu semblante preocupado quando, já pela quinta música, o salão continuava vazio.
Então ele parou de tocar, colocou os dois braços sobre a pequena sanfona e disse com sotaque caipira: “Pessoal, quem quiser dançar pode ir começando, pois é daqui pra baixo!…”
O que ele quis dizer é que se as pessoas ficassem esperando algo diferente para se animar, a festa ia ficar desanimada até o fim. Deu esse recado e voltou a tocar. Os casais foram para o meio do salão e aquela sanfoninha de oito baixos animou o baile a noite toda, sem perder a linha.
Lembrei-me dessa história quando estava preparando uma palestra sobre liderança. Procurava um exemplo para comentar o desafio que tem o líder de mostrar resultados através das pessoas. Quando me veio à mente a figura do sanfoneiro, entendi que “administrar é conciliar os limites do possível e a angústia do desejado”.
Achei então uma frase do filósofo Confúcio, que completa muito bem essa idéia: “Um líder tem que ser um negociante de esperança.” Realmente, o líder de hoje deve ser principalmente um facilitador, alguém bastante habilidoso para extrair respostas dos outros, talvez de pessoas que nem tenham consciência do que sabem.
O sanfoneiro mostrou a todos, naquela festa, que a animação não vinha só da sanfona, mas principalmente de dentro de cada um, do talento e do entusiasmo de cada casal dançando no salão e fazendo a festa ficar realmente animada.
Assim é com o entusiasmo no trabalho. Um líder muito vaidoso, que vive contando vantagens e olhando todos de cima, não conseguirá o comprometimento de sua equipe, como consegue o líder que valoriza os talentos do grupo, estimulando a todos para que se animem e se realizem sem que seja preciso esperar condições ideais para essa realização.
Toda organização humana é montada para satisfazer pessoas. É importante que o ambiente de trabalho faça as pessoas se sentirem úteis, participantes e valorizadas, pois esse clima positivo é que faz as coisas funcionarem bem.
Todo ser humano deseja realizar um trabalho significativo, ter participação e responsabilidade. Como disse Eric From, “sentir-se útil torna-se uma condição de equilíbrio da personalidade humana. Desta forma, ser produtivo não é um dever do homem, mas um direito. E a organização precisa conceder-lhe esta oportunidade”.
O líder busca em seus liderados o talento de cada um, para que cada um dê o melhor de si. Sabe fazer com que seus colaboradores incorporem os objetivos da organização, para atingir metas estabelecidas e ampliar a perspectiva de negócios. Esse comprometimento não se consegue apenas com promoções de marketing de incentivo e palestras motivacionais, mas principalmente no dia-a-dia, com atitudes e frases poderosas, como as seguintes: “qual a sua opinião?”; “preciso de sua ajuda”; orgulho-me de você”; “você fez um bom trabalho”; “Não podemos passar sem você”; “desculpe, cometi um engano”; “por favor”, “sinto muito”; “muito obrigado”; e com o uso intensivo da palavra “você”.
Estas são palavras milagrosas para o entusiasmo e o comprometimento da equipe. Não precisa que o líder fique todo dia fazendo preleções como se fosse um técnico de futebol antes de cada partida. O segredo do comprometimento está nos momentos mais triviais, em mínimos detalhes, no modo de lidar com os seus colaboradores.
O verdadeiro líder valoriza o trabalho de cada integrante de sua equipe, pois tem consciência de que, mais do que ninguém, a pessoa que executa o trabalho é que sabe a melhor maneira de executá-lo e é, portanto a pessoa mais preparada para aperfeiçoá-lo.
Nos tempos de hoje, em que a qualidade é um imperativo para a sobrevivência, o líder exerce um papel essencial para o aprimoramento constante de seus liderados. Para ele, a busca da qualidade deve ser parte integrante de qualquer atividade, já que a qualidade tem que estar em todos, desde as tarefas mais simples até as mais complicadas, não podendo ser desmembrada e nem delegada a outros. Ele sabe ser rigoroso, sem perder a ternura. Se fosse paternalista e complacente,
não estaria estimulando a competência de cada um. Por isso ele faz com que seu pessoal saiba que os tempos não são de comodismo, que de agora em diante a luta será dura e que só os competentes sobreviverão.
Cabe ao líder olhar o futuro e traçar com os seus colaboradores a melhor maneira de chegar até lá. Para isso, todos devem ter consciência exata da situação atual, do ponto que se deseja atingir e do prazo para se chegar lá. Nunca foi tão importante estabelecer metas ousadas e cumprir prazos, pois o mundo anda muito rápido hoje em dia. Como disse Harry Fosdick, se alguém diz que algo não pode ser realizado, corre o risco de ser interrompido e ultrapassado por alguém que já está fazendo exatamente aquilo que outros não ousaram antes.
Nós temos a responsabilidade da mudança. Devemos começar por nós mesmos, aprendendo a não rejeitar antecipadamente o novo, o surpreendente, aquilo que parece ser radical. Mesmo que a situação não seja ideal – até porque nunca é – vamos fazer como ensinou aquele sanfoneiro: se a música não for das mais animadas, mesmo assim vamos dançar com entusiasmo, para que tudo se anime.