Conheci certa vez um sujeito que era considerado um chato por seus colegas de trabalho, porque só falava de coisas que todos já sabiam ou que já estavam ultrapassadas.
Foi apelidado de “Jornal de ontem”, o apelido pegou e, com o tempo, até ele – que inicialmente tentou ignorar – passou a atender pela forma abreviada: “de ontem”.
Nesse mesmo grupo de colegas, havia um que se destacava por ser antenado no futuro. As pessoas nem tinham ainda assimilado uma novidade tecnológica e ele já falava com entusiasmo de algo que estava sendo inventado e que ainda levaria vários anos para chegar ao mercado. Em vez de comentar as notícias acontecidas, ele queria discutir os diferentes cenários que poderiam ocorrer em função dos fatos que estavam acontecendo.
Por sua visão de futuro, tornou-se um líder natural de sua equipe e foi promovido a gerente. Inovador e ousado, destacou-se entre os demais gerentes, algum tempo depois foi convidado para assessorar a diretoria da empresa e mais adiante tornou-se diretor.
Planejar o futuro a partir de uma análise dos cenários possíveis é uma forma de prever o imprevisto, estudando-se previamente o rumo a ser tomado em cada caso. Mas a vida é feita de surpresas.
Alguns acontecimentos inesperados surpreendem até mesmo os maiores estudiosos no assunto. Há exatamente um ano, em março de 2004, li em varias revistas da economia que o dólar fecharia o ano em torno de R$ 3,50, mas, no momento em que estou escrevendo este artigo, está em 2,70.
Outro bom exemplo foi a recente eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Ninguém da cúpula do governo colocava fé na vitória desse deputado, que corria por fora, com seu jeito de repentista, foi comendo pelas bordas, usou a melhor estratégica e venceu. (Não me cabe fazer nenhuma avaliação política desse fato, mas quero dar parabéns ao estado de Pernambuco, por ser terra natal do presidente da República e agora também do presidente da Câmara.) O que fazer diante desse acontecimento imprevisto? – pensaram os políticos após a votação. Antes de tudo é preciso aceitar e conviver com as mudanças, sem ficar preso a situações que não existem mais, e saber trabalhar com o novo.
“Como será o amanhã
responda quem puder
o que irá me acontecer
o meu destino será como Deus quiser”.
Esta é a letra de um samba-enredo do carnaval de 1978, que fez muito sucesso e até hoje é muito cantada. Um dos motivos desse sucesso é o tema. Temos um grande fascínio pelo futuro. E, mais ainda, pelo inesperado. Nada vende mais jornais do que o acontecimento imprevisto, e nada é mais sem graça que a notícia requentada.
Mas quando o inesperado nos faz uma surpresa, nem sempre essa surpresa é o que se desejava. E quando isso acontece as pessoas ficam desapontadas ou mesmo perplexas, sem saber o que fazer. Pior ainda quando o inesperado é um acidente que provoca sérios danos. Por isso, muitos têm medo do futuro e vivem preocupadas com o que pode vir a acontecer.
“Não vos inquieteis com o dia de amanhã,
pois o amanhã trará os seus cuidados”.
Essa frase de Jesus (em Mateus, 6:34) é um conselho de grande sabedoria para nossa vida diária. “Basta a cada dia o seu próprio mal” – assim termina a frase, que gosto de traduzir de outra forma: “Basta a cada dia o seu próprio desafio”.
Mas no mundo em que vivemos hoje, cheio de riscos e de imprevistos muitas vezes desagradáveis, como podemos não nos preocupar com o dia de amanhã?
Administrando o imprevisível. Se você trabalha no ramo de Seguros, certamente respondeu sem pestanejar.
Quando se prevê o imprevisível,
ele passa a ser previsível.
Se cuidarmos de garantir pelo menos os nossos bens e o melhor atendimento à saúde de nossa família, a maior parte de nossas preocupações pode deixar de existir.
O amanhã começa agora, você sabe, e basta a cada dia o seu próprio desafio.
Portanto, a melhor maneira de não ficarmos preocupados com o amanhã é estarmos atentos ao dia de hoje.
Mesmo que o trabalho intenso não dê nenhuma folga em nossa agenda, precisamos dedicar o máximo de atenção à nossa vida particular (familiar, financeira e social). Isso é administrar o imprevisível. Quem consegue fazê-lo terá um tempo presente bem melhor, com menos estresse, e um futuro melhor ainda, havendo ou não tempestades no caminho da bonança.